segunda-feira, janeiro 29, 2007


Ismália
(Alphonsus de Guimaraens)

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Livros, Discos e Sei Lá Mais o Quê # 06


Sei Lá Mais o Quê indicado: Dancem macacos, dancem

O pequeno vídeo produzido por Ernest Cline, "Dancem macacos, dancem" é, sem exageros, uma obra prima da simplicidade. Contando apenas com imagens retiradas do Google e um texto, ele consegue elaborar uma análise crítica do macaco homem e suas pretensões de não sê-lo. A trilha sonora fica a cargo da The Penguin Cafe Orchestra, que dá o tom dramático na execução de "Music for a Found Harmonium", realmente emocionante. Para conferir o vídeo, é só clicar no hyperlink acima. (Dlyra tem a transcrição completa para os interessados)

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Sala de Espera de um Analista





Do cigarro que não pude fumar.










Da companhia que não pude desfrutar.











Volver.
















Agora preciso ir.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

OS CLASSIFICADOS INCLASSIFICÁVEIS
DO PANDEMIA # 01

* Procurando por: .......... degradação humana

1) Grande Emissora Televisiva: Trocamos parte de sua dignidade por uma aparição na TV. Aceitamos todo o tipo de autodegradação. Não damos almoço. Tratar com o Sr. T. Botelho Pinto, horário comercial, fone: 3171-6900. Não nos responsabilizamos pelos objetos deixados no local.

2) Grande Instituição de Ensino: oferecemos nossos serviços de formação com alta tradição e professores renomados para jovens inteligentes e criativos dispostos a abrir mão de sua inteligência e criatividade. Garantimos nossa perpetuação intelecto-vampiresca-institucional enquanto cuidamos de prepará-lo para se tornar um gabaritado medíocre-pedante. Carteirinha de estudante gratuita no ato da matrícula.

3) Grande Revista "Politizada": VEJA nossa incrível oferta! Vendemos assinatura de revista altamente parcial e conservadora, sem escrúpulo ou compromisso outro que não o de estravasar a angústia patética e rancorosa de gente abestada. Gratuitamente você recebrá em sua casa, junto com a revista, um conjunto de idéias alienantes que, provavelmente, lhe transformará em um idiota convicto de que se encontra no ápice do seu exercício crítico-reflexivo. Também nas bancas, bem à sua direita, sem descuidar da retaguarda...

4) Grande Cineasta Militante: procuro pobres autênticos dispostos a encenar o meu olhar sobre a pobreza. Trataremos todos com falsa dignidade e simpatia condescendente. Fingiremos não haver diferenças. Escovamos seus dentes e reembolsaremos o valor da passagem (no max. 4 conduções ida/volta). Privilegiamos histórias de vida com o tema "dor e superação e novamente dor". Ed. Quartier, sl. 1002, Ipanema.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Livros, Discos e Sei Lá Mais o Quê # 05


Disco Indicado: Gilberto Gil Ao Vivo - 1974
Gravado em outubro de 1974 durante um show do cantor em São Paulo, o álbum Gilberto Gil Ao Vivo é um daqueles discos imperdíveis e ligeiramente desconhecidos com o qual temos que nos deparar algum dia. Neste álbum, onde a capacidade criativa de Gil parece transbordar em cada faixa, encontramos uma mistura de sons e ritmos variados - como rock, baião, maracatu, xote, bossa nova e samba - executados por músicos de primeira linha que garantem um resultado final impecável. Vale muito a pena ouvir o disco inteiro, mas se faltar tempo ou oportunidade, não deixe de conferir João Sabino, Abra o Olho, Menina Goiaba e Herói das Estrelas. Ah, o álbum conta ainda com 5 faixas bônus, com destaque para Copo Vazio - dedicada ao compositor Chico Buarque - e Cibernética, sambinha espetacular introduzido com uma história impagável de Gil. Até a próxima e fiquem com:

Abra o olho
Ele disse: "Abra o olho"
Caiu aquela gota de colírio
Eu vi o espelho
Ele disse: "Abra o olho"
Eu perguntei como é que andava o mundo
Ele disse: "Abra o olho"
O telefone tocou
Soando como um grilo de verdade
Eu ouvi o grilo
O grilo cantando
Tava eu no mato de novo
No mato sem cachorro
Eu pensei: "Tá direito?"
Que eu nunca tive cachorro ao meu lado
Ele disse: "Abra o olho"
Eu disse "aberto", aí vi tudo longe
Ele disse: "Perto"
Eu disse: "Está certo"
Ele disse: "Está tudinho errado"
Eu falei: "Tá direito"
Eu falei: "Tá direito"
Tudo numa gota de colírio
Ele disse: "É delírio
Navegar nas águas de um espelho"
"Meu nego, abra o olho"
Ele disse: "Abra o olho"
Ele disse: "Abra o olho"
Com aquela sua voz suave, amiga e franca
Eu falei "tá direito" de olho fechado e gritei:
"Viva Pelé do pé preto
Viva Zagallo da cabeça branca"
Livros, Discos e Sei Lá Mais o Quê # 04
Livro indicado: Entre Quatro Paredes
Retrato do pensamento filosófico de Jean Paul Sartre, o livro Entre Quatro Paredes é, na verdade, a segunda peça teatral do escritor, produzida pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Nesta obra que caracteriza a filosofia existencialista de Sartre, um homem e duas mulheres, com personalidades contrastantes, vão para o inferno e lá descobrem sua confusa expiação: condenados a passar toda a eternidade lado a lado, na mesma sala, sem recurso outro que não suas próprias individualidades. Surpresos e, até certo ponto, aliviados em saber do inferno tão só uma sala vazia onde teriam que conviver eternamente com os companheiros, logo eles decobririam, para seu desespero, que seu padecimento implicava suportar o pior de si mesmos. E é do reflexo de suas próprias fraquezas, estampadas no olho alheio, que os personagens chegarão à célebre frase que imortalizou o livro: o inferno são os outros. A obra revela muito sobre a condição humana e possui virtudes ímpares no contexto da literatura moderna, sobretudo pela extrema sensibilidade do autor - que se mescla, em mais de uma ocasião, com uma espécie de olhar cítrico sobre o homem e suas tolas convicções a respeito de si mesmo. Segue o trecho:
"Vão ver como é tolo. Tolo como tudo. Não existe tortura física, não é mesmo? E no entanto estamos no inferno. E ninguém mais chegará. Ninguém. Temos que ficar juntos, sozinhos, até o fim. Não é isso? Quer dizer que há alguém que faz falta aqui: o carrasco... Não serei o carrasco de ninguém. Não lhes desejo mal, e nada tenho que ver com as senhoras. Nada. É muito simples. Vejam só, cada qual no seu canto; esse é que é o jogo. A senhora aqui, a senhora ali, eu lá. E silêncio. Nem um pio. Não é difícil, não é mesmo? Cada um de nós tem muito que se incomodar consigo mesmo. Acho que eu seria capaz de passar dez mil anos sem falar."