quarta-feira, dezembro 27, 2006

Sob o signo de Plutão

Plutão não é mais planeta!
Estamos reduzidos a oito entes planetários.
Torna-se a Terra mais adulta entre seus pares?
Jupíter, mais magnânime em sua grandeza?

Este foi o ano da exclusão do desviado e pequeno ex-planeta...
O que dirão os livros de astronomia?
“Em 2006, Plutão, planeta descoberto um século antes, foi declarado ex-planeta.”
Reservarão eles destino semelhante ao planeta azul?

Ou será a Terra única entre os planetas?
Talvez já sejamos ex-humanos demais.
Demasiadamente desumanos.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

quinta-feira, novembro 30, 2006

Livros, discos e sei lá mais o quê # 03


Sei lá mais o quê indicado: Pink Flamingos

O filme Pink Flamingos (1972), de John Waters, é uma produção cuja descrição não precisa ir muito além de seu subtítulo: um exercício de mau-gosto. Pode-se dizer que esta película inaugurou a concepção de cinema underground nos EUA e elevou o status dos midnight movies ao patamar da contestação política. O filme narra a insólita competição entre a dragqueen Divine e o casal alucinado Connie e Raymond Marble - que sequestra jovens moças para estuprá-las, engravidá-las e vender seus filhos para casais de lésbicas - na busca pelo título de "pessoa mais sórdida do mundo". Vale a pena conferir a escatologia de Pink Flamingos, mas evite fazê-lo enquanto come, pois a película é repleta de cenas capazes de subtrair qualquer apetite. Ah, devo destacar a trilha sonora do filme, muito legal mesmo, repleta de rockzinhos cults apresentados pelos The Centurions, The Trashmen, Patti Page e Little Richard. Faça você também esse exercício de mau-gosto!

domingo, novembro 26, 2006

Toxioplasmose - Atenção donos de gatos!

Interessante artigo na Piauí, revista recém-lançada pelo J. Moreira Salles. Recomendo.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Livros Discos e sei lá mais o quê (# 02)


Disco indicado: Vo Bate Pa Tu
Primeiro disco do grupo "Baiano e os Novos Caetanos", Vo Bate Pa Tu (1974) é o resultado da inusitada união da dupla Chico Anysio/Arnould Rodrigues com o grupo Novos Baianos - de Moraes, Baby, Pepeu & cia. Pra quem curte uma MPB diferente e bem humorada (coisa rara nas composições desse período), este disquinho é mais do que indicado, pois além dos excelentes arranjos executados pela turma dos Novos Baianos, cada faixa é marcada pelo humor cáustico da dupla de compositores. A faxia de maior sucesso, e que dá nome ao álbum, é, obviamente, "Vo bate pa tu", interpretada por alguns como um protesto dissimulado contra a ditadura - já que aborda o tema da deduração. Não concordo muito com esta perspectiva e, a julgar pelo que dizem as más línguas sobre o histórico de Chico Anysio, tenho razões para crer que existem muito mais coisas pra se bater pros outros além do comunismo subversivo...Destaque para as faixas "Véio Zuza", "Cidadão da Mata" e "Urubu tá com Raiva do Boi", cujo conteúdo poético encerra, desde já, esta coluna:

Urubu tá com raiva do boi
E eu já sei que ele tem razão
É que o urubu tá querendo comer
Mas o boi não quer morrer
Não tem alimentação

O mosquito é engolido pelo sapo,
O sapo a cobra lhe devora.
Mas o urubu não pode devorar o boi:
Todo dia chora, todo dia chora.

Gavião quer engolir a socó,
Socó pega o peixe e dáo fora.
Mas o urubu não pode devorar o boi:
Todo dia chora, todo dia chora.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Livros, discos e sei lá mais o quê (#01)

Meus caros amigos, "Livros, discos e sei lá mais o quê" é a mais nova seção deste blog. Nela você encontrará algumas sugestões para um bom exercício dos sentidos, especialmente se você não é cego ou surdo, sempre acompanhadas de uma pequena resenha sobre a obra literária, musical, cinematográfica ou sei lá mais o quê. Enfim, é isso.

Livro indicado: Bom Dia para os Defuntos (Redoble por Rancas)
Publicado no Brasil sob o título Bom dia para os defuntos, o livro do escritor peruano Manuel Scorza Redoble por Rancas representa, sem dúvida alguma, uma das mais densas e prodigiosas obras da literatura latinoamericana. O livro narra a saga da revolta camponesa no Peru, em 1960, contra uma empresa mineradora norteamericana - Cerro del Pasco Corporation - que cercara não só suas terras, mas sobretudo o exercício de sua própria condição humana. Destaque especial para o primeiro capítulo, O sol do Dr. Montenegro, de uma perspicácia e sofisticação tão grandes que, passando os olhos pelas letras que o compõe, esquecemos tratar-se de uma bárbara e persistente história real. Devo acrescentar que este livro é o primeiro de cinco romances independentes, porém interligados, que compõem a "Guerra Silenciosa". Assim temos também "Garambono, o Invisível"; "O Cavaleiro Insone"; "Cantar de Agapito Robles " e a "Tumba do Relâmpago", além do indicado "Bom Dia para os Defuntos", cujo pequeno trecho abaixo encerra a coluna de hoje:
"Os arruaceiros, os namorados e os bêbados se desgrudaram das primeiras escuridões para admirá-la. 'É o sol do doutor!', sussurravam exaltados. No dia seguinte, cedo, os comerciantes da praça desgastaram-na com olhares temerosos. 'É o sol do doutor', diziam emocionados. Gravemente instruídos pelo diretor da escola - 'Espero que nenhuma imprudência leve seus pais à cadeia!' -, os escolares admiraram-na ao meio-dia: a moeda tomava sol sobre as mesmas descoloridas folhas de eucalipto. Por volta das quatro, um garotinho de oito anos se atreveu a cutucá-la com uma varinha: nessa fronteira estacou a coragem da província. Ninguém tornou a tocá-la nos doze meses seguintes".

Frases Fortes com Efeitos Irônicos # 02



"Não quero dinheiro, eu só quero amar, só quero amar, só quero amar"
(Bill Gates, 2003)

DOBRADINHAS INFELIZES #01



"Mente sã...

... corpo são".

terça-feira, novembro 21, 2006

Frases Fortes com Efeitos Irônicos # 01





"Deus escreve certo por linhas tortas"
(Osama Bin Laden, 11/09/2001)
Pequena Nota Filosófica de uma Tarde de Terça


"O bolso vazio é a oficina do Diabo"

terça-feira, novembro 14, 2006

Os Comunistas chegaram!!!

Não tentem se fazer de mortos! Pela primeira vez em sua história os comunistas assumem a presidência do Brasil!!!

sexta-feira, novembro 10, 2006

Um Vício Global

Pelas eliminatórias latino-americanas da Copa do Mundo de 2006, jogavam em uma tarde de domingo, em La Paz, na Bolívia, a seleção da casa e a seleção brasileira. Na cabine de transmissão, Galvão Bueno, Falcão, Casagrande e Arnaldo Cezar Coelho iniciavam um estranho diálogo...

Casagrande: dã, pessoal, isso tá me cheirando bem...
Falcão: então casa uma grande aí.
Arnaldo: porra Casão, a regra é clara! quem bate fica por último!
Galvão: a rrrrrrrrrrrrrapa é minha!

- Diálogo patrocinado pela Telemar: sempre o melhor cartão!
- Apoio da Casa da Moeda: a nota de dez é dez!
- Para congestão nasal use SORINE.
(“em caso de persistência, consulte seu médico ou mude de traficante”)
- Patrocínio PancAir - Aerolinhas Bolivianas: “use o cartão e guarde sua nota” (wisky extra/mais banheiros).
Cursos de Pós-graduação Imaginários
e
Bibliografias Absolutamente Fictícias

I) “A Aventura Norte-Americana”

Bibliografia:

a) Do Sax ao Escafandro: a saga miraculosa de New Orleans
Poorman, Johnigga. WeetPress, 2005.

b) Escolhidos a Dedo: uma etnografia da prostituição masculina em São Francisco
Bigger, Dick. HolePress, 1986.

c) Complexo de Titanic: o mito do Mayflower e o futuro estadunidense
White, Killinger. Found&Fathers, 1765.

d) O Desafio do Xadrez Novaiorquino: como jogar sem as Torres
Targett, Peter O. N. ShithappensPress, 2001.

e) Recordações de Buenos Aires: o diário de um americano na capital do Brasil
Winsdon, Charles Withouter. Simpson’s University, 1952.

f) Meu Chapéu de Cowboy: guia prático para churrascos em casa alheia
Fooker, Anthony Eatall. Nativedied, 1805.

II) “A Descoberta de São Paulo”

Bibliografia

a) Garoa Hobbesiana: considerações sobre os paulistas de acampamento
Maluf, Salim Lalau Jr. Itaquaquecetuba, 1998.

b) A Volta dos que Não Foram: o guia turístico definitivo de São Paulo
Dedois, Marcelo. Pindamonhangaba, 2002.

c) Não vi e não gostei: memórias de minha vida em São Paulo
Lyra, Diogo. Rio de Janeiro, 2004.

d) Paulicéia Desvairada: a superioridade paulista em relação ao carioca
Supla, Suplicynho. Araraquara, 1987.

e) Faça a Coisa Certa: como alugar um apê no Rio sem sair de São Paulo
Huck, Narigano. Congonnhas, 1996.

f) Simplesmente Sampa: dez dicas para evitar o suicídio
Veloso, Paulistanno. Cubatão, 1980.

III) “Nosotros Hermanos: Argentina Revisitada”

Bibliografia:

a) O Mapa-Mundi de Buenos Aires: os argentinos por eles mesmos
Pelón, Miralo. Cagones Editorales, 1928.

b) O Brilho de uma Nação: a carreira de Diego Armando Maradona
Mínapa, Alejandro Metosí. Ediciones Canudos, 1994.

c) Vim, vi e venci: Malvinas para inglês ver
Culodolores, Ernesto. Falkland Press, 1981.

d) A Fábula do KY: auto-ajuda para argentinos
Ribeiro, Lair. Ed. Buracos Calientes, 2003.

e) Era uma vez um verão: o turismo portenho em Búzios
Gay, Ser. Saquaremabooks, 1999.

quinta-feira, novembro 09, 2006

A Mídia Má e a Má Mídia - uma provocação pública a um público conhecido

"Aidim am ahe ama idima
Amidi ama eh a mami dia"
(Mantra de rito funeral dos habitantes de Bukitiingi, cidade na Sumatra que a mídia nunca me disse se foi varrida pelo último tsunami que assolou a região)

"Qualé, grande imprensa?", pergunta perplexo um certo público que já devia estar acostumado com uma mídia má, que nunca lhe foi propriamente simpática. É verdade que ela sempre foi capilarmente ocupada aqui, acolá, nas redações e até mesmo frente às câmeras, por pessoas pertencentes a esse público. Ele sabe, entretanto, que manuais de redação, treinamentos, e especialmente editores e demissões, existem para tornar tudo isso realmente desimportante. Qualé!? Perplexos??

"Qualé, grande imprensa?" insiste esse público. Logo ele, que hoje ele lê o Estadão e O Globo porque "pelo menos não é má mídia", reclama que a mídia é má? É mentira que ninguém lia a Folha de São Paulo e o Jornal do Brasil durante o período de nossa redemocratização e que nunca aderiu publicamente a um de seus editoriais. E, convenhamos, não foi exatamente a qualidade do jornalismo dos Mesquita e dos Marinho que melhorou. E ademais, a qualidade de nossos quadros dirigentes e midiáticos, em perspectiva comparada, nem é tão sofrível assim, pelo menos para quem passou os anos 90 nos Estados Unidos. Não nem tão supreendente assim: a nossa mídia é mais independente e menos censurada do que a deles. Qualé!? Perplexos??

Há má mídia e mídia má. Esse público sabe disso há algum tempo. Vamos parar de brincar de conspiração e voltar a fazer política. Esse público importa para essa política que queremos fazer. E essa mídia também importa. Esse público vlê mídia má se ela não for má mídia. E vlê péssima mídia se fôr mídia do bem.

Aidim am ahe ama idima. Amidi ama eh a mami dia

A vitória dos guerreiros democratas nas eleições americanas

"Não conheço exemplo mais triste e mais completo de insulto à razão humana que a bárbara e patética ilusão dos [americanos] a respeito do princípio do "amigo ou inimigo", pois o que é sério não é a guerra, e sim a paz. A guerra e tudo quanto com ela se relaciona está presa à rede demoníaca do jogo. Só superando essa primária relação amigo-inimigo, a humanidade atingirá uma dignidade superior. A concepção de 'seriedade' dos [americanos] leva-nos muito simplesmente de volta ao nível do selvagem" (adaptação de trecho de Homo Ludens, de Johan Huizinga, 1938).

Como lembrou Jânio de Freitas hoje, e sempre me lembrava o colega Cepik, quem faz guerra por lá é democrata, pelo menos era assim até o início da dinastia dos Arbustos.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Pessoa II

"Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra que é pensada
E a única vida que temos
É essa dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

sexta-feira, novembro 03, 2006

"Nos mijam e dizem: Choveu!"

quarta-feira, novembro 01, 2006

Não Vi e Não Gostei do:
Cirque du Soleil


Antes de tratar com minúcias sobre o espetáculo promovido pelo famoso Cirque du Soleil no Brasil, gostaria de começar esta coluna com a premissa básica e praticamente incontestável de que todo circo é uma merda. E como tal, variam em sua diversidade tão somente nas cores, densidades e adornos de material orgânico não digerido – como uma berlota de milho ou mesmo um caroço de laranja misturados ao cocô. Isso me leva a crer, sem constrangimentos, que a despeito de sua variedade sedutora, tanto no caso do circo como no caso da merda, quem não viu não perdeu nada.
Chego a indagar a mim mesmo: quem, qualquer que seja o tempo e espaço, já se divertiu verdadeiramente com um palhaço; surpreendeu-se com o mágico; sofreu com a contorcionista; temeu pelo trapezista ou tremeu com os animais? Tenho grande convicção de que, no íntimo de cada elemento da platéia, existe, por detrás da racionalidade do aplauso, uma mente psicologicamente condoída por um inexplicável sentimento de culpa que, no final das contas, procura redimir com palmas o débito social sentido em face dos indivíduos do circo.
Mas o Cirque du Soleil se coloca, inegavelmente, acima dos outros circos e, sobretudo, da própria instituição circo. Para sua trupe, se é que o termo não os ofende, o Cirque du Soleil representa um salto evolutivo de duzentos anos, pois que explicitamente avesso às motivações fundantes do bom e velho picadeiro do século dezenove, repleto de aberrações e animais exóticos. O circo clássico, desde então, cumpriu com sucesso a missão de saciar a curiosa morbidez humana e assim permaneceu até o surgimento do “Cirque” – cujo marketing consiste justamente na apresentação de um espetáculo asséptico e devidamente civilizado, capaz de despertar o interesse do afeminado e televisivo homem pós-moderno. Gloriosamente, enfim, a morbidez cedia lugar ao impreciso termo por nós chamado de “arte”.
Aproveitando o ensejo do tema “arte”, gostaria de convidá-los a uma breve pausa nas elocubrações sobre o Cirque e, bem rapidamente, tecer alguns comentários sobre este fabuloso gancho. Isto porque a arte, na forma como o conceito vem sendo empregado, não significa mais que o produto artesanal, imbuído de uma suposta criatividade, de pessoas acostumadas ao mundo capitalista pré-pronto que desfrutam sem questionar. O que não vem da loja, portanto, é arte, e artista, geralmente, todo aquele que, de uma forma ou de outra, não precisa trabalhar para sobreviver (mas não quer dar essa pinta). Não sei se vocês conhecem um bairro do Rio chamado Santa Teresa, mas... ah, deixa pra lá. Voltemos ao Cirque.
O caso é que o Cirque, ao refutar a presença do bizarro nas suas apresentações, não conseguiu ir muito além de um espetáculo politicamente correto e, por isso mesmo, extremamente chato. Como se, de repente, o surrealismo (que, no original francês sur real, significa sobre o real) fosse substituído pela pop art (que, no fim das contas, significa arte vendável) e, assim sendo, a realidade distorcida de um Salvador Dalí cedesse lugar à plasticidade pasteurizada e palatável de um Andy Warrol. Com isso, vimos a mulher barbada eslava perder seu posto para a jovenzinha carente do terceiro mundo, e, desta feita, não só aplaudimos tal iniciativa como, sobretudo, pagamos bem mais caro por ela.
Acontece que eu sou jovem, sou carente e sou do terceiro mundo. Tipos assim, como eu e a tal jovenzinha do Cirque, somos demasiadamente comuns e, porque não dizer, insossos, se comparados à obscura presença de uma mulher barbada não lusitana no palco. Por tudo isso e muito mais, estou certo de que o Cirque du Soleil, ao abandonar suas raízes, deixou para trás não só a essência do picadeiro clássico, mas, especialmente, perdeu de vista a própria noção do espetáculo e do entretenimento em sua forma mais lúdica e tipicamente humana. Eu nunca assisti o Cirque du Soleil, mas...
Na única vez em que fui a um circo em toda minha vida, lá pelos oito anos, detestei os palhaços; assumi que o mágico só podia ser um portador de déficit de atenção; achei a contorcionista enfadonha e, confesso, flertei com o desejo de ver esborrachado no chão o prepotente trapezista – para, logo em seguida, ser devorado pelo leão magro fujão.
Contudo, não saí do picadeiro sem aquele encanto típico da lona e, confesso, por mais contraditório que pareça, fui embora maravilhado com ela: as instalações não confiáveis, a falta de salubridade, as aberrações humanas, tudo, enfim, de precário, exerceu sobre mim um fascínio tão forte que, até hoje, perdura romantizado em minha memória afetiva. E eu, que odeio circo, vou fazer o que no Soleil sem os anões, as mulheres barbadas, os portadores de doenças degenerativas, o número do artista cego, surdo, mudo e tetraplégico, o feto-marionete que conta piadas de duplo-sentido e o atirador de facas bêbado seis vezes viúvo?
Tudo o que posso dizer sobre o Cirque du Soleil, de forma curta e grossa, é que NÃO VI E NÃO GOSTEI. Em todo o caso, se você é do tipo “ver para crer”, os ingressos mais populares do espetáculo estão disponíveis por módicos 150 reais e podem ser adquiridos no site www.cirquedesoleil.com .
Aviso
Conclamo todos aqueles que “viram e gostaram” a replicarem meus argumentos. Vivemos numa era democrática e, assim sendo, o pior que pode acontecer é a deturpação do seu depoimento. Afinal, como dizia o falido, “liberdade é uma calça jeans velha e desbotada”. Qualquer coisa para além disso, como nos mostra o fenômeno da assadura, não passa de balela norteamericana ou, pior, discurso do movimento estudantil. Em caso de discordância, por favor, procurem meu advogado rico – pois no próximo mês, felizmente, minha secretária estará comprometida com uma série de sevícias sexuais necessárias para a consolidação de seu mais novo aumento salarial.
Cordialmente,
Nestor Loureiro.

terça-feira, outubro 31, 2006

Marquito viu Jesus!

Aconteceu de Jesus entrar na minha casa. Minha vida mudou. Passei a enxergar o mundo de uma outra forma.

Jesus era o nome do pedreiro que a Mônica arrumou para fazer uma reforma no banheiro de casa, quando morávamos na Vila Olímpia em São Paulo. Fiz inúmeras descobertas naquele momento. A primeira delas é que Reforma é que nem o Conde Drácula. Não sei se você sabe, mas na mitologia do Vampiro, ele não entra na sua casa a não ser que você convide. Uma vez lá dentro, no entanto, só sai depois de sugar todo o seu sangue. Reforma é a mesma coisa, ela só vem para sua casa se você chamá-la, e não sai mais a não ser que tenha exaurido todas as suas energias.

A reforma do banheiro era para durar coisa de duas semanas e durou quase três meses. Naquela época eu trabalhava em casa. Então foram três meses de martelação, cimento, pó, pedreiros e uma sujeira inomivável que se alastrava progressivamente pela casa e que, ao final, ocupava praticamente todos os espaços. Isso sem falar que o trabalho de pedreiro tem um planejamento digno de um ministério suíço. De meia em meia hora o cara vinha te interromper porque “acabou o durepox”, ou “vai precisar de um conector do cano”, ou sei lá o que. De nada adiantava você insistir com coisas tipo “mas é só isso mesmo que precisa?”, porque na hora o cara diz que sim e meia hora depois vem com nova demanda.

Mas talvez o que mais mexeu com minhas concepções de mundo limitadas foi fato de que o pedreiro trazia o filho dele para ajudá-lo, algumas vezes. Um sujeito que atendia pelo nome de “Lindo” (nome mesmo, não era apelido). Então eu chegava da rua, entrava em casa, olhava aquele sujeito do meu tamanho e dizia: “Oi Lindo”.

Foram tempos difíceis estes quando encontrei Jesus. Graça a Deus, depois de 3 meses, ele foi embora e nunca mais o vi.

(Fernando Navarro)

segunda-feira, outubro 30, 2006

Os segredos do voto; ou das razões do voto australiano

(10-29-2006)

O segredo funciona em uma eleição como proteção contra o escrutínio do poder, do dinheiro e da opinião. O voto no Brasil é australiano, secreto como eles inventaram por lá. Aqui, o segredo do voto está amparado no direito constitucional de exercê-lo secretamente, para que nem familiares, nem patrões ou colegas de trabalho, nem mesmo amigos mais próximos possam exercer sobre ele a vigilância que, na democracia, somente ao povo cabe exercer e somente sobre os governos por ele eleitos; jamais sobre eleitores que, como eu, cumpriram seu dever de contribuir para o resultado eleitoral.

Meu voto foi secreto. Distante do mundo das adesões públicas e das escusas a posteriori para interesses a priori, ele nunca, entretanto, se distanciou do republicanismo que legitima uma maioria no segundo turno. Elegi exercer esse dever democrático de forma secreta. Sorrateira, diriam uns. Como os segredos que envolvem a masturbação. O segredo do voto é o direito à vergonha no exercício do dever cívico, sem que se deseje expor a público a opinião emitida nesse exercício. O voto pode ter cúmplices, como o sexo, mas como a masturbação, ele pode ser sigiloso, até mesmo quando todos sabem que é exercido por todos. Pode ser traumático às vezes, é verdade. Mas é docemente secreto. Sinto um súbito pudor vitoriano tomando conta de mim...

O voto de hoje me causou sentimentos cáusticos. A cabine era clara, mas o voto foi obscuro. Foi oculto. Secretamente, eu exercia o que me era constitucionalmente garantido exercer como segredo. E, supreendentemente, era daí que eu derivava o maior dos meus prazeres cívicos. O poder, o mandonismo, a coerção física, econômica, ou, no meu caso, simplesmente a opinião, especialmente a da maioria, não era capaz de corromper o meu modesto gesto republicano de cumprir o dever de participar do jogo representativo da democracia brasileira.

Votei e não me arrependo do voto que votei. Mas desta vez sinto que não escolhi votar.

Escondido de todos ficará esse voto. É um segredo que talvez um dia, vaidosamente, eu queira revelar; ou que talvez já esteja revelado nessa declaração velada de voto. Mas o Brasil hoje ao meu redor não me dá vontade de contar em quem votei. Pra ninguém. E não adianta perguntar. O meu voto é australiano. Ele é secreto.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Pessoa I

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como un deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.

Pandemia


Não vivemos uma crise dos sonhos. Sonhamos coisas diferentes.
Não queremos que nossos sonhos se tornem realidade.
Queremos uma realidade melhor para sonharmos sonhos mais belos.
O que queremos é uma crise dos pesadelos.

Pandemia é a nossa contribuição.
O virus está solto.

A/RJ/01/06(H5N1)