segunda-feira, agosto 17, 2009
























As Cousas
(Alberto Calixto, poeta português)

As pessoas vão e vem. As cousas sempre ficam.
Cousas delas e cousas dos outros;
Cousas que trazem boas lembranças e cousas que trazem más.
Todas lembranças. Simplesmente cousas e as lembranças que elas trazem.

As pessoas não ficam porque não querem.
Ou são cousas minhas que as afastam?
As minhas cousas vão e vem; as delas aqui descansam e afujentam.
Será aquilo que minhas mãos fazem com elas o que as tornam tão indesejáveis?

São mãos que nunca lavraram a terra para descobrir o tempo certo do semeio.
Mãos que raramente afagam o chão pouco úmido, em busca de água que se secou.
Mãos que, às vezes, de tão sujas e calejadas, tocam e maculam.
Mancham coisas alheias, tornando-as novamente pagãs e inúteis para os idólatras.

Deixaram suas cousas aqui os idólatras; muitas vezes, para nunca mais voltar.
Ou seria apenas meu aquele olho que fita as cousas que perduram?
Seria minha, apenas minha, a lágrima que lembra dos que se foram sem tudo levar?
Ou seria ela de um salgado universal, sal de todos sem a ninguém ao certo pertencer?

Pouco importa.
As cousas sempre ficam, mesmo quando as pessoas vão.
Eu também sempre fico, e sempre sem saber que cousas são minhas.
Sem saber também que cousas dos outros nunca retornarão.

Pouco importa.
As cousas são sempre assim.
Assim as cousas parecem que são.
As pessoas vêm e vão. As cousas não.

Nenhum comentário: